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Em memória do Sr. João Peixoto

José MachadoEm memória do Sr. João Peixoto

Vou-me embora, vou partir,
Ó amor dos meus carinhos,
Vou-me despedir de ti,
Quero-te dar dois beijinhos!

No dia 2 de Janeiro deste ano de 2007, por doença incurável, faleceu o Sr. João Peixoto, nosso associado desde 1992, quando já tinha a bonita idade de 65 anos e ainda pensava que o lugar de tocador de bombo na tocata do Grupo Folclórico e Etnográfico de Palmeira lhe podia encher os dias e as memórias para netos e bisnetos. E assim foi durante 14 anos, que hoje se recordam como dias felizes, com ensaios e saídas de entusiasmo, em tarefas de contínua predisposição para o serviço e para a partilha das responsabilidades.

O Sr. João Peixoto, filho de Abílio Peixoto, pedreiro de ofício, e de Maria Fernandes Rodrigues, naturais e moradores no lugar de Lamela, nasceu em 6 de Maio de 1927, teria completado este ano os 80 e bem os merecia se Deus não o tivesse chamado a Si. Era o nosso associado 107, mas antes fora o sócio nº 250, que é esta a sina de uma associação, crescer e decrescer, numerar e renumerar os seus associados, conforme as vicissitudes da vida e das ideias de cada um.

Casou no ano de 1952 com Alzira de Jesus Rodrigues, tiveram 3 filhos, o Adélio, a Maria da Conceição e o Manuel, este falecido em circunstâncias dramáticas e ainda hoje dolorosas. Quatro netos e uma bisneta completavam a sua família na hora do falecimento.

Quando morrem os velhos, nós ficamos mais velhos também. E dizemos velho com esta intenção de dizer que velho é o Sol e não passamos sem ele, porquanto é na sua velhice que encontramos o sustento das novidades. Por força do Sol, ficaram também os velhos com esse papel de transmissores e de sustentadores das novidades, não para as poderem prever, mas para as poderem tornar mais compreensíveis, num rol de recomendações e de cautelas que os novos não apreciam, dispostos ao improviso contínuo das novidades. Mas o passar dos anos vai-nos dizendo que olhar para trás ajuda a olhar para a frente.

Morreu o velho amigo senhor João, o tocador de reque-reque, a presença completa da humildade enquanto pessoa, o homem de total disponibilidade para os outros naquilo que as suas forças permitissem, porque de vontade própria nunca via entraves às tarefas que obrigassem a vida a seguir um rumo. Foi toda a vida um homem da construção civil e do amanho da terra, sendo esta, desde que construíra a sua casinha na Rua das Flores, ali no lugar de Valinhos, um quintal de novidades nas quais se apoiava o orgulho das árvores de fruto, a figueira, o diospireiro, as laranjeiras, as macieiras.

Morreu o senhor João da Zirinha do Barraco, assim era a nomeada deste homem bom. Pode lá haver mais humilde nomeada para um homem que toda a vida trabalhou por conta de outrem, por todo este país, do Minho ao Algarve? Na sua casa nova fez questão de colocar duas fiadas de flores, feitas de 4 conchas pretas de mexilhão, num gesto artístico tão ingénuo quanto significativo da sua sensibilidade, e colocou sobre a porta de entrada um nicho com os três santos das festas populares, Santo António, S. João e S. Pedro. Reformou-se em 1978, passando a ocupar-se com tarefas a jornal. Na vida associativa, a que aderiu com entusiasmo, foi notado o seu empenho na angariação de patrocínios para o Festival de Folclore e para a Revista, como foi sempre notada a sua vontade de sair e de conhecer outras terras tocando, cantando e dançando. Nunca estava cansado para sair com o Grupo. A sua esposa bem pode testemunhar a sua prontidão para sair com o Grupo, sobretudo quando lhe parecia mais cansado e ela lhe dizia que «hoje não ia sair», que logo ele se arrebitava e dizia «agora não, olha que já estou pronto». Muitas vezes foram «ambos a dois» para o cumprimento de permutas e contratos, ele alegre e bem disposto e ela apreciadora deste convívio que a vida associativa proporciona. Aqui se recorda também a sua vontade expressa de ser ele próprio a construir a sede da Associação se acaso a sorte lhe compensasse as investidas no totoloto, nas raspadinhas, na lotaria e noutros jogos de fortuna em que gostava de insistir. Aqui se recorda o seu gosto de participar no cantar dos Reis, ainda que fossem cantados em casa de sua filha e fosse ele a pagar a festa.

A cultura popular deixa-nos as palavras na sua crueza de ironia, mas na sua plenitude de expressão: ser o homem conhecido pela mulher que esposou e serem ambos referidos a um presépio da natureza de um barraco, eis uma origem humílima desta nossa urbanidade contemporânea. E agora termos ouvido dele próprio a narração orgulhosa da sua história de vida, e agora termo-lo visto alguns anos aplicado a esse instrumentar rítmico das cantigas e danças que tão orgulhosamente apresentámos como marcas de nossa identidade, é sempre termos presente na razão e no coração uma nascente desse valor humano que é a humildade, não a resignação nem a desistência, mas a capacidade de nos estimarmos como somos e de termos orgulho em nós próprios.

O reque-reque é um instrumento percutivo de persistência, de regularidade e de regularização do ritmo, mas é também o instrumento popular mais privilegiado para a invenção de formas e para a ironia e para a sátira de tipos e ofícios, por isso requer quem o estime e quem lhe sinta o orgulho de ser tão preciso na tocata como os instrumentos fazedores da melodia. E o senhor João vivia essa missão cultural do instrumento, com a mesma humildade de vida e de trabalho.

Paz à sua alma e louvor ao seu exemplo. O futuro, não tenhamos ilusões, seguirá por esta via que é a de ser encarado como problema a resolver pelo trabalho persistente e regular, com uma marcação de ritmo que se adapte às suas voltas, com um desejo experimentado de improviso para os seus contratempos. Hoje, que sentimos no ar esta vontade urgente de tudo simplificar e abreviar, aceitemos a necessidade do treino dos pequenos gestos, aceitemos a necessidade do ritmo regular nas mais breves situações. Simplificar e abreviar não é saltar por cima, não é passar ao largo ou passar à frente. Os anos são afinal como nós próprios: o novo tudo quer para si como sonho e como expetativa, o velho tudo mostra em si como caso e circunstância. Os casos e as circunstâncias do Sr. João fazem parte da nossa história associativa. Saibamos preservá-los.

José Machado

Braga, Julho de 2007

Rui Gama

Rui Gama

Rui Gama é natural do Porto, e concluiu os Cursos Complementares de Percussão na Escola Profissional de Música de Espinho e de Guitarra no Conservatório de Música do Porto.
Estudando com o Professor José Pina, veio a ingressar na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Porto (ESMAE) onde concluiu a Licenciatura em Guitarra na classe do mesmo Professor. Completou a sua formação em Paris, no Conservatório Nacional da Região d’Aubervilliers na classe de Alberto Ponce.

Finalizou na Universidade de Aveiro a Pós-Graduação em Performance – Guitarra sob orientação dos Professores Nancy Harper e José Pina.

Recentemente realizou a Prova de Especialidade, vertente Instrumento – Guitarra, na Escola Superior de Música de Castelo Branco.

Frequentou cursos de Interpretação com Abel Carlevaro, Robert Brightmore, Roberto Aussel, Alberto Ponce, Tomas Camacho, Leo Brouwer, Betho Davezac, François Dry, Carlos Bonell e Hopkinson Smith.

Apresentou-se em público regularmente a solo e em música de câmara nomeadamente em duo com Hugo Sanches com o Trio de Guitarras do Porto.

Atualmente integra L’Effetto Ensemble, com a soprano Dora Rodrigues e Ciglia Ensemble, com o bandolinista António Vieira.

Como solista apresentou-se com a Orquestra do Conservatório de Braga com o Concerto de Villa-Lobos, com a Orquestra Nacional do Porto o Concerto de Aranjuez sob a direção de Martin André na Casa da Música do Porto, o Concerto Andaluz de Rodrigo, estreia em Portugal no X Concurso Internacional Cidade do Fundão, o Concerto de Aranjuez com a Orquestra Clássica do Centro, o Concerto Acerca de la Felicidad de Javier Ribas, estreia com a Orquestra Portuguesa de Guitarras e Bandolim e com o Ensemble à plectre de Esch-Sur-Alzette do Luxemburgo sob a direção do Maestro Juan Carlos.

Outros projetos incluem a gravação em CD “Dezassete Peças para Guitarra” do compositor Paulo Bastos bem como a participação no Festival de Ópera de Ponte de Lima com a Orquestra Nacional do Porto na obra “Il Barbiere di Siviglia” de G. Rossini, sob direção do Maestro Marc Tardue.

Ligações

URL: www.onepoint.fm/ruigama

Rui Gama – Gestos III de Francisco Monteiro

Rui Gama e Hugo Sanches – Guido Santórsola Sonata nº2

 

 

Artur Caldeira

Artur Caldeira é natural de Braga, Portugal.

Licenciado em Guitarra Clássica e Mestre em Interpretação Artística pela Escola Superior de Música e das Artes do Espetáculo do Porto e na classe do Prof. José Pina, iniciou os seus estudos musicais no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga, sob a orientação do mesmo Professor. É atualmente doutorando na “Universidade da Extremadura”, em Espanha.

Obteve o 1º prémio do concurso nacional “Parnaso 93” e o 1º lugar ex-aequo do “Prémio Helena Sá e Costa 1995”. Tocou com a Orquestra Clássica sob a direção dos Maestros Meir Minsky, João Paulo Santos, Marc Tardue e Niel Thompson e com a Orquestra do Norte sob a direção do Maestro Ferreira Lobo e gravou para a R.D.P..

Realizou concertos de Música de Câmara, designadamente a duo com o guitarrista José Pina, com quem realizou a estreia absoluta da obra “Itinerários” de Fernando Lapa, e o violoncelista Jed Barahal, com quem realizou a estreia absoluta das obras “Plural VIII” e “Lamentos” de Fernando Lapa. Apresentou igualmente em estreia absoluta a obra “Em Memória da Madrugada” para Guitarra Portuguesa e Orquestra, da compositora Marina Pikoul e sob a direção do Maestro David Lloyd.

Fundou o grupo “Som Ibérico”, para o qual escreve vários arranjos de temas da Música Popular Urbana Portuguesa. Com este grupo participou em importantes festivais de World Music na Península Ibérica e gravou um CD, assinando a produção e a direção musical.

Participou, como músico convidado, no filme “Fados”, do realizador espanhol Carlos Saura, ao lado de Mariza, Miguel Poveda, Paulo Soares, Juan Carlos Romero e Carlos do Carmo. No âmbito do Fado, trabalhou ainda com João Braga, Maria Ana Bobone, Ricardo Ribeiro, Ana Sofia Varela, Cláudia Madur, Diamantina, Carlos do Carmo, Ricardo Rocha, José Luís Nobre Costa, Joel Pina, entre outros.

A sua versatilidade permite-lhe abordar um repertório que abrange diversos idiomas musicais, incluindo o Jazz, tendo-se apresentado em público em Portugal Continental, Madeira e Açores, e ainda em países como Espanha, França, Itália, Alemanha, Dinamarca, Suíça, Marrocos, Moçambique e África do Sul.

Professor do Conservatório de Música do Porto desde 1992, leciona atualmente na ESMAE - IPP.

 

Adolfo Luxúria Canibal

Adolfo Luxúria Canibal é o pseudónimo artístico de Adolfo Morais de Macedo, nascido em Dezembro de 1959 na cidade de Luanda, em Angola. Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, exerceu a advocacia nesta cidade até 1999. É desde 1989 consultor jurídico na área da Conservação da Natureza. Na qualidade de especialista em Direito do Ambiente foi orador convidado em diversos congressos e seminários, portugueses e estrangeiros, e professor em cursos de formação, de pós-graduação e de mestrado. Integrou de 1993 a 1999 um Grupo de Peritos Jurídicos da Convenção de Berna, junto ao Conselho da Europa, em Estrasburgo.

Projetos

Fundador, vocalista e letrista dos grupos Auaufeiomau (1981/84) e Mão Morta (desde 1984), com quem gravou os álbuns Mão Morta (1988), Corações Felpudos (1990), O.D., Rainha do Rock & Crawl (1991), Mutantes S.21 (1992), Vénus Em Chamas (1994), Mão Morta Revisitada (1995), Müller no Hotel Hessischer Hof (1997), Há Já Muito Tempo Que Nesta Latrina o Ar Se Tornou Irrespirável (1998), Primavera de Destroços (2001), Carícias Malícias (2003), Nus (2004), Maldoror (2008), Rituais Transfigurados (2009), Pesadelo em Peluche (2010) e Pelo Meu Relógio São Horas de Matar (2014) e no âmbito dos quais concebeu espectáculos multimédia como Rococó, Faz o Galo (1983), Müller no Hotel Hessischer Hof (1997) ou Maldoror (2007). Participou ainda na concepção do musical Então Ficamos, para o encerramento da Capital Europeia da Cultura – Guimarães 2012 e da performance neuro/áudio/visual Câmara Neuronal, a partir dos sinais elétricos emitidos pelo cérebro, para o Festival Frame-Art (2012).

Criou também espetáculos de spoken word, nomeadamente Epístolas da Guerra para o Festival FalaDura (1999), Estilhaços para o Teatro do Campo Alegre (2004), Estilhaços de Cesariny para a Fundação Cupertino de Miranda (2010) e Estilhaços Cinemáticos para os Encontros de Cinema de Viana do Castelo (2013), que originaram a gravação dos álbuns Estilhaços (2006), Estilhaços e Cesariny (2011) e Estilhaços Cinemáticos (2014).

Participou ainda como ator em alguns filmes, como Gel Fatal (1996), Quem é o Pai do Menino Jesus? (2010) ou Escama de Peixe (2012), e na série para televisão O Dragão de Fumo (1998/99), tendo concebido com João Onofre o filme de videoarte S/título (мій голос), exibido no 19.º Festival Internacional de Cinema - Curtas de Vila do Conde (2011).

Colaborações e outras atividades

Colaborador convidado de dezenas de artistas, com quem participou em concertos ou na gravação de mais de 30 discos, integrou ainda, de 2000 a 2009, o coletivo francês de música eletrónica Mécanosphère, com quem gravou os álbuns Lobo Mau (2001), Mécanosphère (2003), Bailarina (2004) e Limp Shop (2006).

Autor de textos dispersos por jornais e revistas, como a Vértice ou a 365, foi, de 2000 a 2004, correspondente do jornal Blitz. Teve uma coluna de opinião no semanário O Independente (1999) e manteve crónicas regulares na Antena 3 (2001-04) e na revista Vidas (2008/10) do jornal Correio da Manhã. Tem desde Janeiro de 2011 uma rubrica mensal na revista Domingo do Correio da Manhã e desde Janeiro de 2014 uma crónica quinzenal no semanário Sol. Editou os livros de poesia Rock & Roll (1984), Estilhaços (2003) e Todas as Ruas do Mundo (2013), um Prefácio para uma edição portuguesa de Os Cantos de Maldoror, do Conde de Lautréamont (2004), e os ensaios Breve Nota Para Uma História do Parque Nacional da Peneda-Gerês, para o livro Parque Nacional da Peneda-Gerês – 40 Anos (2011), e A Natureza na Prosa de Valter Hugo Mãe, para o livro Falas da Terra no Século XXI – What Do We See Green? (2011). Editou ainda 33 Poesias (2008), um seleção de poemas de Vladimir Maiakovski que traduziu e prefaciou. Juntamente com Fernando Lemos concebeu o livro-objecto artístico Desenho Diacrónico (2011).

Foi também autor e locutor de programas de rádio, na Rádio Activa (Braga) e na RUT - Rádio Universidade Tejo (Lisboa), no tempo da pirataria radiofónica.

Em 2003 foi considerado uma das cinquenta personalidades vivas mais importantes da cultura portuguesa pelo semanário Expresso e em 2011 foi um dos 100 ex-alunos convidados pela Universidade de Lisboa para proferir uma palestra no âmbito das comemorações do seu centésimo aniversário.

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